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Novas Políticas

UM BLOG APOIADO PELO INSTITUTO FRANCISCO SÁ CARNEIRO

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Novas Políticas

14
Jul09

É a cultura, engenheiro

Pedro Picoito

O encontro de Sócrates com pessoas "da cultura", que o João Gonçalves já descreveu por alto, destinava-se oficialmente a suscitar contributos para o programa do PS. Na prática, Sócrates quis mostrar que está mesmo arrependido por não ter investido em tão mediática área, pecado que reconheceu há tempos graças ao banho de humildade das europeias. Os nomes chamados a capítulo revelam, porém, uma das maleitas congénitas do Governo: a redução da política ao espectáculo.

Em dois sentidos.

Para o PS de Sócrates, governar é aparecer na televisão e nos jornais. Não interessa o que se faz, desde que se veja. É sintomático que do conclave não se saiba nada, a não ser onde foi (no Museu do Oriente, um das obras do regime socialista) e quem lá estava. O resto foi à porta fechada. Ou a máquina de propaganda tinha medo que os artistas se lembrassem de criticar o Senhor Engenheiro, ou o Senhor Engenheiro não tinha muito para lhes dizer além do arrependimento, ou as duas coisas.

Mas a política cultural de Sócrates reduz-se também ao espectáculo num sentido literal. Quem lá estava, segundo nos foi narrado, eram os famosos da música, do cinema e da literatura: Tim, dos Xutos (uma presença sem eira nem beira muito oportuna), Rui Veloso, Luís Represas, João Gil, Inês Medeiros, António Pinho Vargas, Possidónio Cachapa e outros talvez menos célebres. Em suma, alguns dos escassos criadores portugueses que vendem (muito ou pouco), têm sucesso comercial (mesmo se relativo) e podem dar-se ao luxo de viver (bem ou mal) da sua arte. Escusado será dizer que a esmagadora maioria dos "agentes culturais" está longe de tal Olimpo. Ou seja, aqueles para quem uma "política cultural" pode ter algum sentido foram simplesmente ignorados na suposta recolha de contributos para a "política cultural" do PS.

Talvez se deva atribuir também a esta procura dos holofotes a ausência de personalidades ligadas ao património, o único sector da cultura onde a presença do Estado é indispensável, ou ao ensino artístico, que o Ministério da Educação está a asfixiar, ou à Cinemateca, que atravessa um momento de indefinição após a morte de Bénard da Costa, ou aos intermitentes, ainda à espera de um estatuto profissional que lhes permita sobreviver, ou aos teatros e orquestras regionais, sempre à beira do desaparecimento.

Na cultura socialista todos são iguais, mas alguns são muito mais iguais do que outros.

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