06
Ago09
Política Externa
francisco pereira coutinho
Tentar perceber as linhas fundamentais da política externa portuguesa através da leitura do programa eleitoral do PS constitui um esforço digno de encómios.
O PS começa com um truísmo: nas próximas décadas “ocorrerão profundas transformações no sistema internacional, com sérias consequências para Portugal e para os portugueses”. Quais são, em concreto, as consequências a que alude o PS não é explicado.
Descrevendo um cenário apocalíptico de crise mundial, anuncia o PS que Portugal deve ter um papel relevante na nova ordem internacional “através de uma participação activa nas instituições e organizações internacionais que integra, valorizando cada vez mais as nossas relações históricas fora do espaço europeu”. Ou seja, devemos fazer aquilo sempre fizemos, ficando, contudo, o leitor com a legítima dúvida de saber a que Estados ou conjunto de Estados com relações históricas com Portugal alude o PS: o Magrebe? Os Palop? Os países ibero-americanos?
Segue-se um apelo ao multilateralismo, à participação de Portugal nas organizações internacionais e à reforma do sistema das Nações Unidas e do Conselho de Segurança. Mas haverá ainda alguém de bom senso no nosso país que advogue o isolacionismo internacional ou que não defenda uma reforma das Nações Unidas?
Omissa ficou, surpreendentemente, qualquer referência à chamada “diplomacia económica”. Quererá isto significar que, em caso de vitória eleitoral do PS, não voltaremos a ver o Primeiro-Ministro da República a fazer de “agente comercial” de um empresa de computadores em cimeiras internacionais ou em périplos com o mesmo objectivo por Estados de reputação democrática duvidosa como a Venezuela ou a Líbia. Ainda que tal fosse seguramente lamentado pelos “Gatos Fedorento”, a dignidade da política externa portuguesa muito o agradecia.