03
Ago09
O paradigma da governação Sócrates
Pedro Duarte
Há uma medida que pode ser apresentada como o cristalino exemplo do paradigma da governação de Sócrates.
Refiro-me ao famigerado processo de avaliação dos professores.
A ideia foi apresentada com fulgor e veemência pelo próprio primeiro-ministro. Era a prova da coragem e do reformismo deste líder, contra o imobilismo, a preguiça e a mediocridade de uma classe profissional.
Naturalmente, esta medida teve o efeito imediato de agradar à generalidade da sociedade portuguesa e de ofender os professores mais empenhados e qualificados (vítimas de uma perigosa generalização).
Foi assim que Sócrates governou durante quase quatro anos. Com anúncios (sublinhe-se, anúncios) de medidas corajosas e com afrontas a determinadas classes profissionais, na expectativa de conquistar a “sociedade” contra este pretenso “inimigo comum”.
Passaram quatro anos e meio. A mais longa Legislatura. O que temos?
Temos o processo de avaliação de professores na gaveta. Ao contrário do que foi insistentemente prometido, nem um único professor foi verdadeiramente avaliado até hoje. E, de acordo com a recente decisão de prorrogação do regime simplificado, o mesmo se passará no próximo ano.
Resta-nos um clima de profunda instabilidade nas escolas e uma classe profissional deprimida, desmotivada e com a sua autoridade de rastos.
A reforma foi para a gaveta, mas as mazelas no brio profissional dos professores ficam lá!
Tanta crispação, para quê?
Para degradar o nosso sistema de ensino, em nome de uma “imagem de coragem e de reformismo”...
Afinal a coragem era só mesmo arrogância.
Afinal o reformismo era só mesmo crispação.
Foi assim na avaliação dos professores tal como em praticamente todas as áreas em que este Governo se meteu.
Impõe-se uma nova atitude que assente na verdade e na transparência na relação com os cidadãos.
O próximo Governo terá esta obrigação ética: não sacrificar as políticas à artificialidade da imagem e da aparência.